sábado, 25 de julho de 2009

Clean Climbing: Evolução x Pluralidade de estilo

Clean Climbing é um conceito relativamente novo na escalada, tendo raízes em alguns locais emblemáticos e conhecidos dos escaladores, entre os principais destacam-se: As agulhas de Arenito na região entre Alemanha e Republica Theca; nos Grit Stones da Inglaterra e no vale do Yosemite.
Trata-se de um estilo de escalada ultramoderno, a interação escalador e meio ambiente é máxima, protege-se, em grande parte dos casos, apenas onde a erosão agiu ao longo dos períodos geológicos, fato este que possibilitou o surgimento da escalada em rocha, pois inúmeros registros das primeiras ascensões em montanhas virgens se deram primeiramente utilizando-se sistemas de chaminé e fissuras nas paredes.
No entanto, o homem moderno desde a revolução industrial tem a tendência em criar mecanismos para auxiliar e em muitos casos facilitar o cotidiano, minimizando esforços e riscos inerentes as atividades desempenhadas. Não se pode negar que as inovações tecnológicas possibilitaram em muitos casos a evolução do homem, o descobrimento de novas fronteiras, conquistas de novos locais, mas e o custo ambiental, ou melhor, como os economistas dizem as externalidades, foram consideradas? É nítido que não! Vê-se o exemplo da utilização de combustíveis fósseis há séculos sem qualquer preocupação com as emissões de Gases do Efeito Estufa, fato este que está gerando um desequilíbrio climático perceptível a todos nós e que tende a se agravar.
Voltando ao ambiente de montanha, as inovações tecnológicas surgiram, com o advento das proteções móveis, principalmente Friends e de proteções fixas (chapeletas e grampos P’s), possibilitando ascensões em faces nunca antes escaladas, com sistemas de fendas ou não.
No Brasil, a utilização de equipamentos móveis é algo recente, nas décadas de 70,80 e 90 apenas alguns poucos escaladores possuíam acesso a este tipo de equipamento e os que não possuíam, mas que se simpatizava com o conceito Clean Climbing, fabricava seus próprios equipamentos suas próprias peças.
Em determinados locais, onde se oferecia possibilidades de colocações através de fissuras foram feitas as primeiras ascensões sem a utilização de equipamentos móveis, isto nas décadas de 70 e 80 principalmente com a utilização de proteções fixas. A realidade da época era totalmente diferente da existente hoje, não existia a infinidade de proteções móveis existentes atualmente, portanto não se podem criticar os conquistadores pela opção tomada há 20-30 anos e sim agradecê-los pela iniciativa da conquista e pela contribuição ao esporte.
Recentemente, na região de São Bento do Sapucaí, em especial a Fissura Chove e não Molha antiga conquista do CAP do inicio da década de 80 foi palco de polêmica. Esta linda fenda foi grampeada na sua primeira ascensão, apesar da possibilidade em realizá-la totalmente em móveis, ok! Como já explicado anteriormente, outra época, outros pensamentos, seus conquistadores serão eternamente lembrados pela primeira ascensão na rota.
No entanto a polêmica consistia do fato em regrampea-la ou não. Eu sempre fui contra as suas chapeletas velhas e quando fui questionado a respeito desse fato, expressei a minha opinião, disse que era preferível manter as proteções fixas velhas (pelo fato histórico) do que retirá-las e colocar novas proteções fixas, grande parte dos escaladores tinham consciência de que as proteções fixas não agüentariam quedas e todos escalavam a via utilizando proteções móveis.
Foi quando para o meu espanto, a via em um belo dia estava regrampeada pela iniciativa de alguns escaladores, sem nenhuma consulta ao restante da comunidade, sem ter ocorrido qualquer discussão a respeito desse fato e o maior agravante, sem ter sido consultado os conquistadores da rota, foi lamentável o ocorrido. Além de que a regrampeação ocorreu em locais diferentes das antigas proteções.
Bem, aconteceu o seminário de mínimo impacto na região da Pedra do Baú, por expressar minha opinião fui fortemente criticado pelas mesmas forças que regrampearam a rota, triste este fato, pois estas mesmas críticas saíram do campo do montanhismo e tinham o cunho pessoal!
Resolveram então consultar os conquistadores de fato da rota para escutar as suas opiniões e, infelizmente, pediram que fosse mantido as características originais da via, "putz", mas e a evolução do esporte, como fica? Segundo, especialistas no assunto, é preferível que o direito autoral da via seja respeitado... algo no mínimo questionável!
Bem, voltando à história dos adventos tecnológicos criados pelo homem, as chapeletas e proteções fixas são sem dúvida alguma imprescindíveis para a ascensão em diversos lugares, assim como a queima de combustíveis fósseis em alguns processos inerentes a sobrevivência do homem. Mas se o ritmo de utilização insustentável dos derivados de petróleo se manter, em menos de 100 anos a temperatura do planeta Terra irá subir 7°C, fato este que será suficiente para acabar com grande parte da população mundial e alterar em muito o estilo de vida do homem moderno.
E a utilização de chapeletas irão perguntar o que tem a ver com o clima? Realmente, nada, apenas quero demonstrar que atitudes tomadas no passado por mais importante que tenham sido para a evolução humana, não podem ser tomadas novamente com o risco de extinção da nossa raça. Desse modo, utilizar novamente proteções fixas onde existe a possibilidade de colocações móveis, não é uma atitude que contribui para a evolução do esporte, tampouco, para a filosofia do clean climbing que muitos dizem ser seguidores, mas apenas com palavras e não com atitudes.
Assim sendo, vale a pena utilizar o conceito do direito autoral para estes casos? Eu, particularmente, creio que não! Acho que este fato deveria ter sido amplamente discutido pela comunidade, com calma e da melhor maneira possível; não “a toque de caixa” para chegar a uma conclusão precipitada e demonstrar os resultados obtidos e sem a anuência dos principais freqüentadores da rota.
Muitos dizem que a pluralidade de estilos deve sobressair, concordo, todos possuem seu espaço, deve haver chances a todos para a escalada. Mas e o custo dessa pluralidade? É diminuir as opções de clean climb do local?
Bem, a meu ver esta discussão não houve ganhadores e sim perdedores, como a Escalada Limpa, esta sim perdeu em muito pela atitude tomada que vai contra as novas tendências mundiais. Devemos voltar as nossas raízes, contribuindo localmente para um mundo sustentável com atitudes novas que tragam benefícios éticos para o nosso esporte, não estou propondo o banimento das proteções fixas e sim a sua utilização correta.
Portanto antes de bater uma chapeleta onde existe a possibilidade de colocações móveis, pense a respeito!

Boas escaladas!